O desmatamento na Amazônia disparou em maio de 2025, com uma alta alarmante de 91% em comparação ao mesmo mês de 2024, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Foram registrados 960 km² de floresta sob alertas de desmatamento pelo sistema Deter, o equivalente a quase toda a área da cidade de Belém (PA). Trata-se do segundo pior resultado da série histórica para o mês, atrás apenas do recorde de 1.390 km² registrado em maio de 2021.
Essa é a segunda alta consecutiva no ano: em abril, o aumento havia sido de 55%. Considerando o período de agosto de 2024 a maio de 2025 — base para o cálculo oficial da taxa de desmatamento — a destruição acumulada da floresta chegou a 3.502 km², um crescimento de 9,7% em relação ao mesmo intervalo anterior (3.191 km²).
O Deter, sistema que fornece alertas diários para orientar a fiscalização por Ibama e ICMBio, não mede a taxa oficial de desmatamento, que é calculada anualmente pelo sistema Prodes. Mas os dados de maio já sinalizam um possível retrocesso na tendência de queda registrada desde 2023, justamente no momento em que o Brasil se prepara para sediar a COP30, conferência da ONU sobre o clima, em novembro, em Belém.
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima atribuiu parte da alta em maio ao aumento expressivo de incêndios florestais. Segundo o secretário executivo da pasta, João Paulo Capobianco, 51% da área desmatada no mês estava coberta por floresta incendiada — um recorde. Para se ter ideia, entre 2016 e 2022, essa média era de apenas 6,6% para o mês de maio. Em 2023, chegou a 32%, e em 2024, caiu para 21%.
Segundo ele, a mudança climática está provocando um "colapso da floresta" com impactos globais, que devem ser tratados como responsabilidade coletiva dos países signatários da Convenção do Clima.
Entre os Estados da Amazônia Legal, o maior aumento no desmatamento foi registrado em Mato Grosso, com uma explosão de 237%, ando de 186 km² para 627 km². Municípios como Feliz Natal, União do Sul e Porto dos Gaúchos lideram a destruição, impulsionados por práticas como o “correntão”, método devastador de derrubada de vegetação.
No Amazonas, a alta foi de 22% (de 117 km² para 143 km²), enquanto no Pará, estado que sediará a COP30, houve uma leve oscilação de 5%, com os alertas subindo de 138 km² para 145 km². No mês anterior, o governador Helder Barbalho havia acionado o Planalto para tentar reverter embargos do Ibama a propriedades com desmatamento ilegal, o que reacendeu o debate sobre a pressão política contra a fiscalização ambiental.
Em abril, o Ibama realizou a maior ação remota de embargos da história, cruzando imagens de satélite com dados de autorizações de supressão de vegetação. Foram mais de 70 mil hectares embargados em 5 mil fazendas, em 23 municípios — 11 deles no Pará.
Enquanto a Amazônia enfrenta crescimento do desmatamento, o Cerrado registrou queda de 15% em maio na comparação com 2024, caindo de 1.040 km² para 885 km². No acumulado dos últimos dez meses, a redução foi de 22%, ando de 5.908 km² para 4.583 km².
Na tentativa de fortalecer a fiscalização, o governo federal anunciou o maior investimento já feito com recursos do Fundo Amazônia: R$ 825,7 milhões destinados ao Ibama. O objetivo é reforçar a capacidade de fiscalização, que segue limitada — atualmente, o órgão conta com pouco mais de 700 fiscais ativos, mesmo número do início do atual mandato. Um concurso público recente deve adicionar cerca de 100 fiscais até o fim do ano.
“O histórico mostra que, onde há fiscalização e lei, o desmatamento cai”, afirmou Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima. No entanto, ele alertou que há entraves políticos à proteção ambiental dentro do próprio governo. “A agenda ambiental não tolera duplo comando. Está mais do que na hora de o presidente Lula dar um rumo único à sua gestão nessa área”, disse.
O avanço do desmatamento ocorre apesar da meta do governo Lula de alcançar desmatamento zero até 2030. No entanto, documentos do Ministério da Agricultura revelados recentemente apontam resistência interna, classificando a meta como “fora da realidade”.
A queda de 46% nas taxas oficiais de desmatamento em 2023 e 2024 foi uma das maiores conquistas do governo Lula na área ambiental, revertendo o avanço observado na gestão Bolsonaro. Mas os números de 2025 indicam que essa tendência pode estar em risco.
Com a proximidade da COP30, os dados reforçam a urgência de uma ação coordenada e robusta para proteger a Amazônia — não apenas como um ativo ambiental nacional, mas como um elemento-chave na luta global contra a crise climática.
Desmatamento na Amazônia sobe 91% em maio. 06 de junho, 2025. Observatório do Clima.