O fogo que se alastra pelo Pantanal pode ter consequências ambientais profundas para o Bioma. Pesquisadores descobriram que, um ano após as queimadas de 2020, a diversidade de mamíferos e a abundância de animais haviam caído pela metade nas áreas mais atingidas. Espécies ameaçadas como a anta e o tamanduá-bandeira foram ainda mais afetadas, com populações diminuindo cerca de dez vezes.
O estudo descobriu que o maior impacto dos incêndios ocorreu nas florestas alagadas, onde a riqueza de espécies caiu pela metade e algumas espécies de animais desapareceram quase que completamente. Estudos semelhantes em outras áreas do Pantanal mostraram que espécies como o tatu-canastra sofreram quedas populacionais drásticas de até 80%.
Na maior parte do Brasil, o primeiro semestre raramente apresenta grandes incêndios florestais, com 70% a 90% dos focos de fogo ocorrendo na segunda metade do ano, quando os meses são mais secos. No entanto, a quantidade de queimadas registradas entre Janeiro e Julho de 2024 já é o maior número das últimas décadas.
O Pantanal foi a região mais afetada, com mais de 16 vezes mais incêndios do que o registrado no mesmo período de 2023. Apenas em junho, 4060 km² do Pantanal queimaram. Em todo o primeiro semestre, a área afetada por focos de fogo no Pantanal atingiu 7227 km², um recorde histórico. Confira como os números de queimadas subiram de 2023 para 2024:
Agora, o impacto dos incêndios atuais, caso continuem se alastrando, depende de quais áreas serão afetadas. Em áreas que já foram queimadas anteriormente nos últimos anos, os efeitos podem se mostrar devastadores; nas outras, o impacto talvez seja menos intensos.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), praticamente todas as queimadas da América do Sul são causadas por seres humanos, por razões variadas: desde limpeza de pastos, preparo de plantios, desmatamentos e colheita manual de cana-de-açúcar, até vandalismo, queda de balões e disputas fundiárias.
Queimadas naturais são geralmente causadas por raios durante tempestades, que atingem a vegetação e iniciam o fogo. Durante a estiagem prolongada e intensa amos durante o inverno, praticamente não há tempestades. E, mesmo assim, é neste período que mais se queima no Brasil. Isso, naturalmente, deixa a responsabilidade pela grande maioria dos incêndios nas mãos do ser humano.
Referências da notícia:
Marcos Pivetta. Pantanal bate recorde de incêndios no primeiro semestre e sinaliza avanço das queimadas no país. Revista Fapesp ed. 342, 2024.
Gilberto Stam. Atual queimada pode mudar para sempre o bioma do Pantanal. Revista Fapesp ed. 342, 2024.