Seca e aquecimento global reduzem a atividade dos anfíbios no Brasil, aponta pesquisa na Nature

O estudo aponta que até 36% dos habitats dos anfíbios estão ameaçados pelo aumento das temperaturas e pela redução da disponibilidade de água; e os do Brasil serão os mais prejudicados.

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Rãs, sapos e pererecas podem estar ameaçados pelas altas temperaturas e pela baixa quantidade de chuva. Crédito: David Mark/Pixabay.

Um estudo publicado na revista Nature Climate Change avaliou a exposição dos anfíbios anuros ao aumento da aridez e à intensificação das secas de acordo com cenários climáticos futuros de aumento moderado e alto de emissão de gases estufa.

Entre os principais resultados, destaca-se o que indica que até 36% dos habitats dos anfíbios estão ameaçados devido a esses dois fatores, e os do Brasil serão os mais prejudicados, afetando a sua reprodução. Veja mais detalhes abaixo.

Impacto global das secas na reprodução dos anfíbios

Os pesquisadores realizaram o mais completo mapeamento dos efeitos previstos sobre os anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas) da combinação entre aumento de secas e aquecimento global.

Segundo Rafael Bovo, pesquisador da Universidade da Califórnia, em Riverside (EUA), e coautor do estudo, “a Amazônia e a Mata Atlântica são as áreas que têm mais espécies [de anfíbios] e a maior probabilidade de os eventos de seca aumentarem, tanto na frequência quanto na intensidade ou duração. Isso deve prejudicar a fisiologia e o comportamento de inúmeras espécies”.

Em um cenário de emissões moderadas de gases de efeito estufa, com aquecimento de 2°C, cerca de 15% dos hábitats dos anfíbios se tornarão mais áridos entre 2080 e 2100.

De acordo com o estudo, entre 6,6% e 33,6% dos hábitats dos anfíbios se tornarão mais áridos entre 2080 e 2100, a depender das emissões de gases de efeito estufa até lá. Em um cenário moderado de emissões, em que as temperaturas aumentariam em 2ºC, cerca de 15% desses locais estariam expostos a mais eventos de secas.

No caso de um cenário de emissões mais altas, com temperaturas até 4ºC mais altas neste mesmo período, mais de um terço desses hábitats (36%) serão submetidos a secas severas que podem ser devastadoras para os anfíbios, já que são sensíveis à perda de água por terem pele fina e altamente permeável.

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Um futuro mais quente e seco afetará diretamente a viabilidade das populações de anfíbios pelo mundo. Crédito: Divulgação.

Além disso, a combinação de secas e aquecimento pode duplicar a redução do tempo de atividade desses animais, comparando com o que se esperaria apenas com o impacto do aquecimento global sozinho.

“Em um ambiente mais quente e seco do que aquele que evolutivamente se adaptaram para viver, os anfíbios devem reduzir seu tempo fora dos abrigos para evitar o calor e o aumento da aridez, ambos aceleradores da perda de água por evaporação. Com isso, diminui também o tempo em que se alimentam e procuram parceiros reprodutivos, o que afeta diretamente a viabilidade das populações”, explicou Bovo.

Ainda, os pesquisadores concluíram que na região tropical do planeta, que inclui a Amazônia e parte da Mata Atlântica, o tempo de atividade dos anfíbios se reduz em todos os cenários climáticos de emissões analisados. Enquanto apenas o aquecimento reduziria esse tempo em 3,4% e a seca sozinha em 21,7%, a combinação de ambos faria os anuros arem 26% menos tempo em atividade. Então, o Brasil seria um dos locais mais prejudicados, já que a Amazônia e a Mata Atlântica estão sob grande risco de aumento dos eventos de seca e concentram uma grande diversidade de anuros.

Referências da notícia

O impacto das mudanças climáticas nos anfíbios: como as secas afetam sapos, rãs e pererecas no Brasil e no mundo. 02 de dezembro, 2024. Carlos A. Navas e Rafael P. Bovo.

Global exposure risk of frogs to increasing environmental dryness. 21 de outubro, 2024. Wu, et al.